quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Condenar Lula é declarar o Brasil escravo - a dor que mais dói é a DOR CIDADÃ

Dia 24/jan/2018 foi o dia mais triste da minha vida.
Alguns vão me lembrar que perdi minha irmã, que tanto amo, e que isso me abala ainda hoje, passado tantos anos e que me corrói e entristece diariamente, e tantos outros acontecimentos pessoais que – bem sabem os amig@s – me fazem sofrer.
Mas quem me conhece, os que conhecem mesmo, sabem que não há comparação entre as minhas dores. As dores pessoais ficam num espaço e as dores CIDADÃS ficam em outro, e são dores muito mais profundas, pois são dores coletivas, são dores que doem por gente que nem sabe que as tem, e mesmo as sim eu as sinto, por que sei que mais dia ou menos dias estes irmãos irão sofrê-las. E outros tantos irmãos já as sofrem, e todos somos afetados, pois esta dor é uma cadeia de cascatas, de rios, em uma bacia hidrográfica de dores, que desagua em um mar de desolação.
Ver Lula ser consumido e condenado por ter lutado contra a desigualdade social, por ter distribuído renda sem que as camadas mais abastadas da população reduzisse seu poder aquisitivo enquanto as camadas mais pobres saíram da miséria e ganharam dignidade e as intermediárias passaram a consumir o que nunca sonharam em ter, me entristece e me deixa enlutada (em estado de luto!).
Para quem me conhece sabe que meu discurso não é vazio, e sabe que vou confessar uma coisa grave: fui dormir sem tomar banho! Não consegui. Não tive forças! Passei o dia a sorrir, tentando manter a normalidade, mantendo a aparência a calma, sendo gentil, enquanto por dentro sabia que cada um dos meus sonhos de LIBERDADE, IGUALDADE, FRATENIDADE E MORALIDADE (não sou francesa, mas acho uma excelente base! Para essas e outras serve o estudo de história, tão em desuso na atualidade) desmoronava, sentia que a minha luta de 33 anos (a idade de Cristo) perdia a batalha final e que já não tenho forças para recomeçar.
Sim, fui dormir sem tomar banho por que desmoronei, chorei tanto que não ache necessidade de outra água que não a minha própria – escovei os dentes, para que saibam os mais curiosos. Mas para explicar como desmoronei, digo que ficou passando pela minha cabeça um filme de tudo (ou de muita coisa) que fiz nestes 33 anos de luta:
a)       O cheiro do álcool colocado nas matrizes de mimeógrafo que geravam nossos mais antigos panfletos, os quais usávamos para abordar as pessoas e GERAR DISCUSSÕES com o intuito de conscientização. Não tínhamos dinheiro sobrando para produzir materiais em gráficas e pagar pessoas para distribuir como as pessoas dos partidos de direita tinham. A grande maioria deste material não era político partidário e sim de movimentos sociais para dar voz e vez a quem não tinha.
b)       Das madrugadas em que colávamos cartazes, muitas vezes produzidos por nós mesmos, em preto e branco, com cola feita de farinha de trigo e água. Sabem quantas vezes apanhei na madrugada? Seja da polícia, de adversários políticos, de “filhinho de papai” com dinheiro voltando de balada bêbado que se achava no direito de desrespeitar quem tinha um posicionamento social divergente do seu. Não contei quantas foram. Não contei e fiz questão de esquecer para poder perdoar, por que 90% das colagens que fiz não eram político partidária e sim de movimentos sociais, ou seja, eram lutas por parcelas da população que eram discriminadas e não podiam se fazer ouvir sem apoio.
c)       Da chuva, da lama, do sol escaldante, do frio cortante, das reuniões a base de vinho muito ruim para esquentar ou da raríssima cerveja quente para refrescar, das festas que não fui, das vezes que não estive presente com meus amigos e família por que estava em algum acampamento de movimento social, me desdobrando entre meu emprego formal (trabalho ininterruptamente há 32 anos e milito nos movimentos sociais há 33 anos e estudei a maioria destes anos! Não sou uma pessoa ENCOSTADA no sistema, nunca fui funcionária pública ou cargo de confiança ou tive qualquer cargo político ou sindical – sempre trabalhei na iniciativa privada e consegui conciliar a luta por quem precisava do um apoio!).
d)       Chorei em especial lembrando do noivado de uma amiga, em que eu apareci coberta de suor e lama, dei um beijo nos noivos e voltei para a militância – neste dia era partidária pois era dia de eleição presidencial; as pessoas me olhavam como se eu fosse maluca, mesmo sabendo que o que eu fazia era por um ideal, mesmo sabendo que tendo menos de 20 anos, o material que eu distribuía era pago, em parte, por mim. Talvez por isso me achassem mais maluca, talvez se eu tivesse aparecido com uma bandeira azul e amarela, com algumas notas de dinheiro no bolso como pagamento “por um dia de trabalho”, fosse compreensivo não estar de “saltinho” e bem vestida comemorando um grande dia com todos eles, mas pagar, suar, trabalhar, perder uma (muitas!!!) festa para tentar realizar um ideal, por favor, ISSO É IDIOTICE.
e)       Lembrei que a tecnologia evoluiu e comprávamos e distribuíamos nas sinaleiras adesivos para que as pessoas colocassem em seus carros e suas casas mensagens que mostrassem a verdade que não aparece na TV, no rádio, no jornal e agora na internet;
... Lembrei de tanta coisa que só aumentava compulsivamente meu choro, isso por um simples motivo: NÃO SOU A ÚNICA COM ESSAS LEMBRANÇAS, cada um que construiu o PT, e em especial o companheiro LULA fez isso e muito mais. Lembrei de cada comício que fui, de cada vez que minha mãe se contorcia de preocupação quando eu saia para uma atividade e de tod@s @s amig@s que questionaram por que eu lutava.
Nunca tive excedentes, mas nunca me faltou nada. Nunca fiz parte dos grupos de minoria pelos quais lutei: pessoas sem moradia, sem terra, negros, gays, pessoas que passavam fome, gente sem instrução alguma, pessoas de ocupações habitacionais, professores públicos (só muitos antes mais tarde vim a ser professora, e mesmo assim do ensino superior e privado), e tantos outros que precisavam da minha voz, da minha força, da minha capacidade de articulação, do meu conhecimento. E novamente aumenta meu choro, por que faço um paralelo com Lula e me deparo com a mesma realidade: ele não precisava estar na luta, ele não precisava mais se envolver, ele poderia só viver. Mas ele é grande, ele é imenso – e muito maior, aliás, infinitamente maior que eu – e não abandona a LUTA CIDADÃ!
Eu não luto mais, eu estou de luto! Mas Lula insiste e LUTA! Ele não luta por ele, ele luta por nós, ele luta por cada brasileiro e brasileira, mesmo os que não merecem o seu esforço, o seu desprendimento, o seu amor.
Condenar Lula, aceitar o GOLPE que a democracia brasileira sofreu, é aceitar que o País volte a ser escravocrata, é viver para alimentar a grande elite do capital internacional, representada principalmente pelos Estados Unidos que comanda todas as operações do Golpe: Lava Jato, desmonte da Petrobrás, desmoralização das Empreiteiras Nacionais, aniquilação dos programas sociais, volta da miséria, colocação do Brasil no Mapa da Fome, aumento do Desemprego, Níveis de Violência mais altos de todos os tempos, Orçamento Público CONGELADO por 20 ANOS (e agora ficam manobrando as pessoas para pedir que tirem verba do Carnaval para a Saúde – NÃO PODE, ESTÁ CONGELADO!), e toda as mazeas que o Brasil vem passando.
O mais triste disso tudo é ver POBRES COMEMORANDO A CONDENAÇÃO DO LULA, sendo que a estes Lula deu DIGNIDADE, acesso à Universidade, Emprego, Casa, Cultura, Melhoria da Saúde (sequer tinha FEBRE AMARELA e TODOS OS ANOS TÍNHAMOS VACINA PARA GRIPE E REMÉDIO GRATUITO PARA AS MAIS DIVERSAS DOENÇAS!), e tudo isso graças a uma mídia que serve à Elite que detém o Capital, ou seja, serve a menos de 1% das pessoas no mundo e comanda mais de 90% das pessoas.
Condenar Lula sem provas, mesmo que jamais venham a prendê-lo, e ver POBRES E CAPITALISTAS SEM CAPITAL comemorando como se fosse a coisa mais certa do mundo me dá a certeza de que a DOR CIDADÃ que sinto hoje é de uma ferida tão grande que talvez JAMAIS CICATRIZE, por que ela vai doer cada vez que olhar o Brasil ajoelhado perante o Capital Estrangeiro e formando fileira no Mapa da Fome, duas coisas que NÃO ACONTECIAM MAIS graças ao Lula.
Andréa Santos #ProfDrasta

24/Jan/2018


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