Dia
24/jan/2018 foi o dia mais triste da minha vida.
Alguns
vão me lembrar que perdi minha irmã, que tanto amo, e que isso me abala ainda
hoje, passado tantos anos e que me corrói e entristece diariamente, e tantos
outros acontecimentos pessoais que – bem sabem os amig@s – me fazem sofrer.
Mas
quem me conhece, os que conhecem mesmo, sabem que não há comparação entre as
minhas dores. As dores pessoais ficam num espaço e as dores CIDADÃS ficam em
outro, e são dores muito mais profundas, pois são dores coletivas, são dores
que doem por gente que nem sabe que as tem, e mesmo as sim eu as sinto, por que
sei que mais dia ou menos dias estes irmãos irão sofrê-las. E outros tantos
irmãos já as sofrem, e todos somos afetados, pois esta dor é uma cadeia de cascatas,
de rios, em uma bacia hidrográfica de dores, que desagua em um mar de
desolação.
Ver
Lula ser consumido e condenado por ter lutado contra a desigualdade social, por
ter distribuído renda sem que as camadas mais abastadas da população reduzisse
seu poder aquisitivo enquanto as camadas mais pobres saíram da miséria e
ganharam dignidade e as intermediárias passaram a consumir o que nunca sonharam
em ter, me entristece e me deixa enlutada (em estado de luto!).
Para
quem me conhece sabe que meu discurso não é vazio, e sabe que vou confessar uma
coisa grave: fui dormir sem tomar banho! Não consegui. Não tive forças! Passei
o dia a sorrir, tentando manter a normalidade, mantendo a aparência a calma,
sendo gentil, enquanto por dentro sabia que cada um dos meus sonhos de LIBERDADE,
IGUALDADE, FRATENIDADE E MORALIDADE (não sou francesa, mas acho uma excelente
base! Para essas e outras serve o estudo de história, tão em desuso na
atualidade) desmoronava, sentia que a minha luta de 33 anos (a idade de Cristo)
perdia a batalha final e que já não tenho forças para recomeçar.
Sim,
fui dormir sem tomar banho por que desmoronei, chorei tanto que não ache
necessidade de outra água que não a minha própria – escovei os dentes, para que
saibam os mais curiosos. Mas para explicar como desmoronei, digo que ficou
passando pela minha cabeça um filme de tudo (ou de muita coisa) que fiz nestes
33 anos de luta:
a) O
cheiro do álcool colocado nas matrizes de mimeógrafo que geravam nossos mais
antigos panfletos, os quais usávamos para abordar as pessoas e GERAR DISCUSSÕES
com o intuito de conscientização. Não tínhamos dinheiro sobrando para produzir
materiais em gráficas e pagar pessoas para distribuir como as pessoas dos
partidos de direita tinham. A grande maioria deste material não era político
partidário e sim de movimentos sociais para dar voz e vez a quem não tinha.
b) Das
madrugadas em que colávamos cartazes, muitas vezes produzidos por nós mesmos,
em preto e branco, com cola feita de farinha de trigo e água. Sabem quantas
vezes apanhei na madrugada? Seja da polícia, de adversários políticos, de “filhinho
de papai” com dinheiro voltando de balada bêbado que se achava no direito de
desrespeitar quem tinha um posicionamento social divergente do seu. Não contei
quantas foram. Não contei e fiz questão de esquecer para poder perdoar, por que
90% das colagens que fiz não eram político partidária e sim de movimentos
sociais, ou seja, eram lutas por parcelas da população que eram discriminadas e
não podiam se fazer ouvir sem apoio.
c) Da
chuva, da lama, do sol escaldante, do frio cortante, das reuniões a base de
vinho muito ruim para esquentar ou da raríssima cerveja quente para refrescar,
das festas que não fui, das vezes que não estive presente com meus amigos e família
por que estava em algum acampamento de movimento social, me desdobrando entre
meu emprego formal (trabalho ininterruptamente há 32 anos e milito nos
movimentos sociais há 33 anos e estudei a maioria destes anos! Não sou uma pessoa ENCOSTADA no sistema,
nunca fui funcionária pública ou cargo de confiança ou tive qualquer cargo
político ou sindical – sempre trabalhei na iniciativa privada e consegui
conciliar a luta por quem precisava do um apoio!).
d) Chorei
em especial lembrando do noivado de uma amiga, em que eu apareci coberta de
suor e lama, dei um beijo nos noivos e voltei para a militância – neste dia era
partidária pois era dia de eleição presidencial; as pessoas me olhavam como se
eu fosse maluca, mesmo sabendo que o que eu fazia era por um ideal, mesmo
sabendo que tendo menos de 20 anos, o material que eu distribuía era pago, em
parte, por mim. Talvez por isso me achassem mais maluca, talvez se eu tivesse
aparecido com uma bandeira azul e amarela, com algumas notas de dinheiro no
bolso como pagamento “por um dia de trabalho”, fosse compreensivo não estar de “saltinho”
e bem vestida comemorando um grande dia com todos eles, mas pagar, suar,
trabalhar, perder uma (muitas!!!) festa para tentar realizar um ideal, por
favor, ISSO É IDIOTICE.
e) Lembrei
que a tecnologia evoluiu e comprávamos e distribuíamos nas sinaleiras adesivos
para que as pessoas colocassem em seus carros e suas casas mensagens que
mostrassem a verdade que não aparece na TV, no rádio, no jornal e agora na internet;
...
Lembrei de tanta coisa que só aumentava compulsivamente meu choro, isso por um
simples motivo: NÃO SOU A ÚNICA COM
ESSAS LEMBRANÇAS, cada um que construiu o PT, e em especial o companheiro LULA
fez isso e muito mais. Lembrei de cada comício que fui, de cada vez que
minha mãe se contorcia de preocupação quando eu saia para uma atividade e de
tod@s @s amig@s que questionaram por que eu lutava.
Nunca
tive excedentes, mas nunca me faltou nada. Nunca fiz parte dos grupos de
minoria pelos quais lutei: pessoas sem moradia, sem terra, negros, gays, pessoas que passavam fome, gente
sem instrução alguma, pessoas de ocupações habitacionais, professores públicos (só
muitos antes mais tarde vim a ser professora, e mesmo assim do ensino superior
e privado), e tantos outros que precisavam da minha voz, da minha força, da
minha capacidade de articulação, do meu conhecimento. E novamente aumenta meu
choro, por que faço um paralelo com Lula e me deparo com a mesma realidade: ele
não precisava estar na luta, ele não precisava mais se envolver, ele poderia só
viver. Mas ele é grande, ele é imenso – e muito maior, aliás, infinitamente maior
que eu – e não abandona a LUTA CIDADÃ!
Eu
não luto mais, eu estou de luto! Mas Lula insiste e LUTA! Ele não luta por ele,
ele luta por nós, ele luta por cada brasileiro e brasileira, mesmo os que não
merecem o seu esforço, o seu desprendimento, o seu amor.
Condenar
Lula, aceitar o GOLPE que a democracia brasileira sofreu, é aceitar que o País
volte a ser escravocrata, é viver para alimentar a grande elite do capital internacional,
representada principalmente pelos Estados Unidos que comanda todas as operações
do Golpe: Lava Jato, desmonte da Petrobrás, desmoralização das Empreiteiras
Nacionais, aniquilação dos programas sociais, volta da miséria, colocação do
Brasil no Mapa da Fome, aumento do Desemprego, Níveis de Violência mais altos
de todos os tempos, Orçamento Público CONGELADO por 20 ANOS (e agora ficam
manobrando as pessoas para pedir que tirem verba do Carnaval para a Saúde – NÃO
PODE, ESTÁ CONGELADO!), e toda as mazeas que o Brasil vem passando.
O
mais triste disso tudo é ver POBRES COMEMORANDO A CONDENAÇÃO DO LULA, sendo que
a estes Lula deu DIGNIDADE, acesso à Universidade, Emprego, Casa, Cultura,
Melhoria da Saúde (sequer tinha FEBRE AMARELA e TODOS OS ANOS TÍNHAMOS VACINA
PARA GRIPE E REMÉDIO GRATUITO PARA AS MAIS DIVERSAS DOENÇAS!), e tudo isso graças
a uma mídia que serve à Elite que detém o Capital, ou seja, serve a menos de 1%
das pessoas no mundo e comanda mais de 90% das pessoas.
Condenar
Lula sem provas, mesmo que jamais venham a prendê-lo, e ver POBRES E
CAPITALISTAS SEM CAPITAL comemorando como se fosse a coisa mais certa do mundo
me dá a certeza de que a DOR CIDADÃ que sinto hoje é de uma ferida tão grande
que talvez JAMAIS CICATRIZE, por que ela vai doer cada vez que olhar o Brasil
ajoelhado perante o Capital Estrangeiro e formando fileira no Mapa da Fome,
duas coisas que NÃO ACONTECIAM MAIS graças ao Lula.
Andréa
Santos #ProfDrasta
24/Jan/2018